CançõesCurtas

Versos de muro sem reboco   Menino parafino Pra não dizer o outro  ino Que versejaria aqui   Donde o silêncio tão seguro? Donde as semanas pintadas de azul e cal? Donde a mesquinhez dos digestórios inflamados?   Menino parafino Eu escuto o trem, estranho, estremeço É dia de chegança ou despedida?

Versos de chaminé Não era claraboia Não era aberta ao céu Mas era   Não era lareira Tampouco churrasqueira Uma panelinha de ferro feito alma   Não era pedra de vulcão Que tipo de manta, não sei Fósforo Fiat Lux, etanol   Todos os alertas, alarmas O pedido, sem fogo Sem calor   Uma questão de ajuste De blindagem suporte De ausência-presença de amor

Versos sutis (de uma sala)   Intercâmbio entre almas profundo, intenso, encantador Situação perigosa e simples O entrar em um carro Decente, exigente, urgente Cruzeiro do Sul a cantar Frio intenso, noite, silêncio O gesto veio Derreteu a calota polar derreteu, derreteu Virou um sol cardial O amor é doce de laranja ou arroz doce com gemada mais, sanduiche de presunto A Beleza é um lenço ao pescoço O centro básico são 3 Marias A amorosidade, contida, para sempre  

Versos da janela da vizinha   A avenida grita pare A ilusão choro gris O controle de portão  Fez suporte em meu coração Sobre a janela Objeto de versificação Eu não a posso ver E isso é muito bom  

Versos de quarto de dormir Um conto de sol delicado em a tarde outoniça O amor das peras ao vinho evaporou-se  uma visita ao passadiço O auto cruzou o portão da casa sem se ferir A clave das horas  o murmúrio das fáluas  vento distante, outro mar A valsa flor, há muito, deixou  seus acordes nos veios deste vinil lembranças de um tempo em que, talvez houvesse alguma luz O coração estremece diante da Lei Um breve aceno Em gorgorão e metileno A voz antiga   Rogativas californianas

Versos da despensa   Sementes aguardam A lucidez curativa Dos potes vazios